Considero o Movimento dos Sem-Terra um segundo (e, espero, definitivo) momento
do longo e difícil processo de liberação do Brasil da escravidão:
o primeiro e juridicamente formal ocorreu em 13 de maio de 1888, quando a escravidão
foi abolida pela Princesa Isabel. A propósito, o Brasil foi o último
país das Américas a abolir o crime contra a humanidade que já
fora objeto de amarga condenação pelo grande cientista alemão
Alexander von Humboldt (Essai Politique sur l' Île de Cuba, Paris 1826).
Depois de declarados livres, os ex-escravos foram abandonados ao seu destino
e reduzidos a uma condição miserável, sendo esta uma das
razões mais fortes para a discriminação social e iníqua
distribuição de renda no país. Em nossos dias, independentemente
da cor ou procedência social, uma grande massa de brasileiros, reduzidos
à miserabilidade, está lutando por uma efetiva REFORMA AGRÁRIA,
contra os grandes latifundiários, uma minoria de pessoas muito ricas
que menosprezam a sorte da parcela miserável de nossa população.
Essa luta -- na minha opinião -- corresponde à luta pela liberdade
e conquista da cidadania, devendo ser apoiada pelos intelectuais brasileiros
politicamente conscientes, a exemplo da campanha abolicionista do Romantismo
brasileiro, que foi apoiada por escritores como Luis Gama (poeta e jornalista,
ex-escravo) ou Castro Alves (poeta, autor do célebre poema contra a escravidão,
"Vozes de África", 1868).
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